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“Bala, tadala, bala, tadala!” — o bordão ecoa pelas ruas do Rio, embalando a venda informal da tadalafila, medicamento originalmente indicado para tratar a disfunção erétil. A cena é comum em pontos movimentados como a Rua Arnaldo Quintela, em Botafogo, eleita uma das mais descoladas do mundo. Ali, ambulantes disputam espaço com vendedores de mate e milho, oferecendo o comprimido como um reforço de segurança sexual — e não apenas para quem enfrenta disfunções.
O uso recreativo do remédio cresceu vertiginosamente nos últimos anos, principalmente entre jovens de diferentes orientações sexuais. A substância é usada por quem vai à praia, sai para encontros ou frequenta casas de suingue e festas. A busca, muitas vezes, está menos ligada a um problema clínico e mais à ansiedade por desempenho, insegurança ou pressão social.
Apesar da popularidade, médicos alertam para os riscos do consumo sem orientação. Danilo Souza Lima da Costa Cruz, médico do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Uerj), reforça que pacientes com problemas cardíacos ou que usam medicamentos vasodilatadores devem evitar completamente o uso do remédio. Os efeitos colaterais vão de dores de cabeça e congestão nasal até casos graves como priapismo (ereção prolongada e dolorosa), perda de visão e eventos cardiovasculares.
Além disso, cresce o uso entre frequentadores de academias, que acreditam, sem respaldo científico, que o efeito vasodilatador da tadalafila ajudaria no ganho muscular. O médico é categórico ao desmentir a prática: “Não há qualquer comprovação de que ela funcione como pré-treino”.
Dados da Anvisa mostram o avanço do consumo: em 2015, foram vendidas 3 milhões de caixas no Brasil; em 2023, esse número ultrapassou 64 milhões — um crescimento de mais de 20 vezes em uma década.
Nas casas de suingue, o uso virou rotina, e até os bartenders se aproveitam da demanda para vender o medicamento clandestinamente, muitas vezes em versões manipuladas ou líquidas. A pressão por performance em ambientes não monogâmicos e a busca por uma “atuação perfeita” criam um ciclo de dependência psicológica, como relatou um frequentador que decidiu abandonar o uso após perceber o impacto em sua autoestima e saúde mental.
Apesar dos alertas, a tadalafila também tem aparecido em músicas de funk e piseiro e até inspirou fantasias de carnaval. Recentemente, a Anvisa precisou intervir e proibiu a comercialização de uma bala de goma à base da substância, que vinha sendo promovida por influenciadores nas redes sociais.
A prefeitura do Rio afirma realizar fiscalizações diárias para coibir o comércio ilegal, mas a circulação da “tadala” nas ruas e no imaginário popular parece estar longe de desacelerar.
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