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Por um bom tempo, abrir o próprio negócio foi sinônimo de sucesso, o famoso “ser seu próprio chefe”. No entanto, esse cenário pode estar mudando. É o que aponta pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e centrais sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), aplicada em maio deste ano, que revelou que 56% dos brasileiros que deixaram o regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) para empreender, gostariam de voltar ao emprego formal. O motivo seria a promessa de autonomia e liberdade financeira muitas vezes não confirmada na prática.
Embora empreendedores formalizados tenham rendimento médio mensal de cerca de R$ 6 mil, a jornada até alcançar esse patamar é desafiadora. De acordo com o Sebrae, seis em cada dez novas empresas no Brasil encerram suas atividades em até cinco anos, o que reforça o quanto a manutenção de um negócio próprio exige preparo, capital e resiliência.
Segundo a especialista em Recursos Humanos e diretora da Acelere Gestão de Pessoas, Lorranny Sousa, esse movimento mostra uma mudança na percepção de sucesso profissional. “Durante muito tempo, o empreendedorismo foi romantizado, como se abrir um negócio fosse o único caminho para a realização pessoal. Hoje, há uma visão mais madura: muitas pessoas perceberam que o que elas realmente buscam é segurança, equilíbrio e propósito, e isso pode sim ser encontrado dentro de uma empresa”, explica.
Ainda de acordo com a pesquisa, atualmente, cerca de 38% dos profissionais ocupados trabalham na informalidade, e boa parte deles admite que o empreendedorismo foi uma alternativa de sobrevivência, não uma escolha por vocação. Essa realidade traz à tona o desafio das empresas em atrair e reter talentos em meio a um mercado cada vez mais dinâmico e com profissionais reavaliando suas prioridades.
“Esse movimento de retorno à CLT também mostra que o modelo de trabalho formal está evoluindo. Hoje, as empresas têm oferecido mais flexibilidade, oportunidades de crescimento e um olhar mais humano para o colaborador, fatores que tornam o ambiente corporativo mais atrativo”, pontua Lorrany.
Curiosamente, a pesquisa revela um paradoxo: enquanto muitos autônomos sonham com a carteira assinada, 40% dos trabalhadores CLT sonham em empreender. Para Lorrany, essa dualidade é natural, mas reforça um ponto importante sobre gestão de pessoas. “O que os dados mostram é que o desejo das pessoas não está no modelo de vínculo, mas na qualidade de vida e reconhecimento, seja CLT ou empreendedor, todo profissional quer sentir que tem controle sobre sua trajetória e que é valorizado pelo que entrega”.
Ela ainda ressalta que o papel do RH, nesse contexto, é ajudar empresas a criar vínculos mais significativos com seus colaboradores, construindo planos de carreira claros, políticas de desenvolvimento e modelos de trabalho flexíveis que proporcionem o equilíbrio entre segurança e autonomia.
“As empresas que entenderem essa nova mentalidade vão sair na frente. Mais do que recontratar ex-empreendedores, elas vão conquistar profissionais que sabem o valor da estabilidade”, conclui.
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