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Um estudo publicado no dia 10 de dezembro na revista científica Nature sugere que o jejum periódico pode reforçar o tratamento de um dos tipos mais comuns de câncer de mama. A pesquisa, conduzida com camundongos, indica que a prática — que alterna períodos de alimentação normal com intervalos de forte restrição calórica — altera o funcionamento interno das células tumorais, tornando-as mais sensíveis à terapia hormonal e dificultando o desenvolvimento de resistência aos medicamentos.
A descoberta tem impacto direto sobre o câncer de mama do tipo ERα-positivo, que representa a maioria dos diagnósticos da doença. Nesse subtipo, as células cancerígenas dependem do estrogênio para crescer. Por esse motivo, o tratamento padrão envolve a terapia endócrina, que bloqueia a ação do hormônio por meio de medicamentos como o tamoxifeno. Com o tempo, porém, muitos tumores passam a resistir ao tratamento.
Para investigar o papel do jejum nesse processo, pesquisadores liderados por Nuno Padrão, do Instituto de Câncer da Holanda, utilizaram abordagens chamadas multiômicas, capazes de analisar simultaneamente alterações em genes, proteínas e vias de sinalização celular. Os resultados mostraram que o jejum promove uma reprogramação epigenética nas células tumorais, modificando a forma como determinados genes são ativados ou desativados, sem alterar o DNA.
Essas mudanças estão associadas a alterações em histonas, proteínas responsáveis por organizar o DNA dentro da célula. Dependendo das modificações químicas nessas estruturas, genes ligados ao crescimento tumoral passam a ser menos expressos.
Um dos principais efeitos observados foi a ativação de vias reguladas pelos receptores de glicocorticoides, hormônios produzidos pelo próprio organismo em situações de estresse metabólico, como o jejum. Segundo o estudo, essa ativação reduz a divisão das células cancerígenas e ajuda a impedir que o tumor desenvolva resistência à terapia endócrina, especialmente no subtipo luminal A do câncer de mama ERα-positivo.
Os pesquisadores alertam, no entanto, que o efeito não é universal. Em tumores triplo-negativos, que não possuem receptores hormonais, a ativação dessas vias pode não trazer benefícios e, em alguns casos, estimular o crescimento do câncer. Essa diferença ajuda a explicar resultados inconsistentes de estudos mais antigos, realizados antes da classificação molecular detalhada dos tumores.
Outro achado relevante é que os efeitos do jejum podem ser reproduzidos com medicamentos. Experimentos mostraram que a dexametasona, quando combinada à terapia hormonal, imita os efeitos metabólicos do jejum e aumenta a eficácia do tratamento. Isso abre caminho para o reaproveitamento de fármacos já conhecidos, embora seus efeitos colaterais ainda representem um desafio.
A pesquisa também destacou o desenvolvimento de moduladores seletivos do receptor de glicocorticoides, que buscam preservar os efeitos anticâncer com menor impacto sobre o metabolismo e o sistema imunológico. Um exemplo é a vamorolona, já aprovada nos Estados Unidos para outro uso clínico.
Segundo os autores, os resultados reforçam a importância de considerar o metabolismo como parte ativa do tratamento oncológico. Embora os achados ainda precisem ser confirmados em estudos com humanos, o trabalho aponta para novas estratégias no combate ao câncer de mama ERα-positivo.
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