Durante duas décadas, o mexicano Sergio Gutiérrez Benítez levou uma vida dividida entre fé e combate. Sacerdote católico, ele encontrou uma solução improvável para financiar o orfanato que havia fundado: subir ao ringue como lutador mascarado. À noite, adotava o nome Frei Tormenta e usava uma máscara vermelha e dourada que se tornaria lendária na luta livre mexicana.

A iniciativa surgiu em um momento crítico. Responsável por 270 crianças em situação de vulnerabilidade, Gutiérrez estava sem recursos para manter o orfanato. A inspiração veio ao assistir a filmes mexicanos dos anos 1960 que mostravam um padre lutador sustentando um orfanato. O plano, inicialmente pensado para durar um ano, transformou-se em uma carreira de 20 anos.

Nascido em 5 de fevereiro de 1945, em San Agustín Metzquititlán, Hidalgo, Gutiérrez cresceu em uma família grande e pobre. Na juventude, enfrentou dependência de álcool e drogas, mas mudou de vida aos 22 anos ao ingressar na Ordem dos Escolápios. Ordenado padre em 1973, passou a atuar com jovens em situação de rua e, em 1976, fundou o orfanato La Casa Hogar de los Cachorros de Fray Tormenta.

No ringue, Frei Tormenta conquistou reconhecimento e foi aceito no Conselho Mundial de Luta Livre. Sua identidade permaneceu em segredo até que um impostor passou a usar seu nome para arrecadar dinheiro de pessoas desavisadas.

Sua história inspirou produções internacionais, incluindo os filmes franceses L’Homme au masque d’or (1991), Nacho Libre (2006), estrelado por Jack Black, e Padre Tormenta (2007), no qual Gutiérrez faz uma participação especial. Ele também influenciou personagens de videogames e histórias em quadrinhos.

Aposentado oficialmente dos ringues em julho de 2011, Gutiérrez ainda usa sua máscara em eventos e mantém seus projetos sociais ativos. Em 2013, afirmou que graças à renda obtida na luta livre, muitos dos acolhidos se tornaram profissionais formados, incluindo médicos, professores, contadores, especialistas em tecnologia, um advogado e um sacerdote.

Hoje, aos 80 anos, Frei Tormenta segue como referência de superação e dedicação. Sua trajetória mostra que a verdadeira luta nunca foi no ringue, mas sim pela oportunidade de transformar vidas marcadas pela desigualdade.